Junior Santos, o herói dos dois golaços que incendiaram a Libertadores no dia de ontem, esteve à beira de se perder nos campos ásperos do futebol amador da Bahia.
Durante anos, a luz de seus talentos brilhou nas areias da várzea, onde labutou até os 23 anos. Apesar das propostas tentadoras de clubes profissionais, cujos valores oscilavam miseravelmente em torno de R$ 800, Junior era uma estrela relutante em abandonar o palco onde brilhava. Naqueles campos empoeirados, sua arte valia muito mais do que cifras modestas – lá ele se sentia verdadeiramente vivo, arrebatando corações e driblando destinos incertos, enquanto embolsava três vezes mais do que os minguados salários que lhe ofereciam.
Recusou, vezes sem conta, as tentações daqueles que queriam reduzi-lo a um mero número em suas planilhas. Ele sabia que seu valor transcendia os dígitos de um contrato.
Foi então que o destino lançou seu veredito, numa profecia envolta em incenso e fé, ecoando nas paredes da igreja que frequentava. Ali, Junior recebeu um chamado divino, uma voz sussurrante que lhe prometia além das fronteiras da várzea, além do alcance dos olhos que o viam apenas como um jogador de fim de semana.
Inspirado pela convicção dessa profecia, Junior decidiu arriscar tudo. Deixou para trás os campos familiares da Bahia e se aventurou rumo a São Paulo, onde o desconhecido o aguardava com seus desafios e promessas.
E lá, entre os arranha-céus e ruas lotadas, ele encontrou seu lugar no mundo do futebol. No modesto clube de Osvaldo Cruz-SP, nas entranhas da última divisão estadual, Junior Santos ressurgiu das cinzas como uma fênix, inflamando os gramados com sua habilidade ímpar e determinação inabalável.
Hoje, com seus 29 anos, é artilheiro da Copa Libertadores da América com absurdos 7 gols em 3 jogos (!) pelo Botafogo.