Após ser achincalhado por grande parte da imprensa – em sua maioria 011, diga-se de passagem –, o nome de John Textor voltou a ecoar pelas redes sociais logo após a primeira rodada do Brasileirão. Mas, desta vez, por uma razão diferente: para confirmar suas preocupações.
Muito antes dos pronunciamentos do sócio majoritário do Botafogo, a instituição já havia enviado, em dezembro de 2023, um ofício ao Presidente do STJD, José Perdiz, e ao Procurador-Geral do STJD, Ronaldo Piacente, com propostas de melhorias para a arbitragem brasileira. Entre elas estavam:
1) Regulamentação da profissão de árbitro de futebol profissional;
2) Independência institucional entre a entidade que regula a arbitragem de futebol profissional e a entidade organizadora da respectiva competição;
3) O acompanhamento técnico-científico dos lances e indicadores das partidas de futebol profissional masculino, com a contratação de empresas de auditoria independente, especializadas na análise de dados desportivos;
4) Criação de ranking de árbitros baseados nos erros cometidos ao longo do campeonato e, com base neste ranking, a adoção de critérios de promoção e rebaixamento para árbitros;
5) Transparência na escalação de árbitros para partidas de futebol profissional.
Nenhuma dessas sugestões foi acatada pela Confederação Brasileira de Futebol. NENHUMA. E, francamente, são propostas fundamentais que, se implementadas corretamente, poderiam elevar o padrão da arbitragem brasileira a um nível mundialmente reconhecido.
Surpreendentemente, o assunto foi praticamente ignorado pela mídia esportiva, talvez porque seja mais atraente – e lucrativo – para eles ridicularizarem o “gringo” e tirarem sarro da situação. Especialmente a mídia paulista, que transformou sua programação esportiva em espetáculos de humor; e eu não posso fingir inocência, pois sabemos que o humor sempre esteve presente no jornalismo esportivo, mas em doses menos estravagantesbo. Atualmente, essa balança mudou. Assuntos sérios se tornaram meros detalhes.
Mas e quando o problema afeta quase todos de uma vez? A ridicularização das preocupações de Textor sobre possível manipulação de resultados no futebol brasileiro milagrosamente se tornou uma questão séria assim que a arbitragem entrou em ação. A quantidade absurda de erros logo na primeira rodada do campeonato ligou um alerta que vai além da incompetência. Textor plantou a semente que, ontem, fez muita gente germinar a dúvida sobre a idoneidade das instituições que gerem o futebol brasileiro. Simplesmente porque a realidade se tornou evidente, afetando muitos. Não foram apenas alguns lances isolados. Ontem, talvez, em quantidade, tenha sido a rodada mais bizarra em termos de erros de arbitragem em muito tempo.
Não deveria ser necessário chegar a um ponto tão extremo para destacar o caos na arbitragem. No entanto, casos como o de ontem mostram como o futebol brasileiro ainda é imaturo para resolver seus próprios problemas. É tão difícil assim pensar além do próprio escudo na camisa?